- Minha filha caiu do trem enquanto ele passava sobre as
terras de Royale?! Você estava lá para trazê-la de volta! Como você permitiu
isso, Gilgamesh?! – esbravejou o Imperador Cid ao saber do incidente com sua
filha.
- Perdoe-me, milorde. Não pude salvá-la. Não entendi por
que Marco ajudou o sequestrador a fugir com a princesa.
- Não quero ouvir suas desculpas. Quero que vá atrás de
minha filha e a traga sã e salva para casa, ou acabo com você. Fui claro?
- Como um cristal, senhor. Com sua licença, farei o que
me pediu. – Gilgamesh respondeu de cabeça baixa e com humildade. Nisso, se
retirou da sala do trono do palácio de Tia’bra.
Ao passar pelo portal do trono, Gilgamesh se encheu de
raiva e, rangendo os dentes, andou pelos corredores do palácio até uma das
salas onde os soldados descansavam. Ele abriu a porta da sala com violência e gritando
de raiva, chutou algumas cadeiras. Ali estavam alguns soldados que se assustaram
com a súbita chegada do espadachim.
- Está tudo bem, senhor? – perguntou um deles.
- Eu? Bem? – Gilgamesh respondeu com muita raiva e
ignorância. – Eu por acaso pareço bem, seu inseto?!
- Senhor, podemos fazer...
- Não podem! Não é da conta de vocês! Saiam daqui! Agora!
Os soldados se levantaram rapidamente e saíram da sala,
deixando Gilgamesh sozinho. Ao saírem, Gilgamesh levantou uma mesa e
arremessou-a contra uma das paredes de água do palácio, partindo-a. Depois
disso, esmurrou alguns armários e praguejou contra seu Imperador.
- Maldito seja você, Cid! Vou acabar com esse imperador
de quinta categoria!
- Dessa forma? Não creio.
Gilgamesh se virou para ver quem o respondeu. Era uma
pessoa coberta por uma roupa negra. Ela estava parada em pé e de braços
cruzados, próximo de onde a mesa que Gilgamesh quebrou estava.
- Ah é? – encarou Gilgamesh. – Você por acaso sabe quem
sou para ter que ouvir isso de você?
- Não sei quem ou o quê você é agora, mas sei o que pode
ser no futuro.
Gilgamesh segurou sua raiva para conversar e abaixou o
tom de voz um pouco.
- Você sabe? O que você sabe?
- Sei que você é uma pessoa de grande potencial,
Gilgamesh. Você é um homem ambicioso e determinado. Tem todas as qualidades
para se tornar um ótimo líder para a nação Tia’brana, embora seu plano não seja
o melhor do mundo.
Gilgamesh franziu a testa ao estranhar o que aquela
pessoa disse.
A pessoa de preto. |
- Como sabe disso?
- Do quê? Do seu plano de assumir o Império de Tia’bra? –
Gilgamesh não respondeu e encarou a pessoa firmemente. – Não foi difícil
adivinhar isso de você. É possível ver isso em seus olhos. A procura por poder,
por liderança está sempre presente em você, rapaz.
Assim que a frase foi terminada, Gilgamesh sacou sua
espada perto o bastante para degolar aquela pessoa que estava em negro. Esta
nem se mexeu com a ameaça do golpe.
- Onde você quer chegar com isso? O que você quer?
- Eu? Não quero nada de você, meu caro. Só estou aqui pra
te ajudar com o seu plano. Vim em paz, pelo menos com você.
- Ajudar? Você não me ajudaria de graça. Diga logo. Qual
seu objetivo com isso?
A pessoa pigarreou e voltou ao diálogo.
- Digamos que eu tenho contas a acertar com o seu senhor.
Ele me causou muito prejuízo no passado. Eu acho que você será perfeito na
minha vingança.
- E eu acho que você sabe demais. – Gilgamesh levantou a
ponta da espada quase a encostando no queixo daquele ser. – Eu deveria te matar
agora para evitar futuros problemas.
- Eu sou peixe pequeno pra você, rapaz. Nós dois estamos
atrás da mesma pessoa por motivos diferentes. Nada melhor do que trabalharmos
em equipe, não acha?
- Como vou saber se você está mentindo ou não?
A pessoa descruzou um dos braços e desceu a lâmina da
espada de Gilgamesh para longe de sua cabeça.
- Isso, meu caro, vai ter que vir de você. Você não é
obrigado a querer meus serviços. Já é adulto, pode tomar suas decisões sozinho.
A lâmina desceu até atingir o chão com leveza. Gilgamesh
controlou sua raiva e decidiu dar um voto de confiança. Ele sentiu firmeza no
tom da pessoa.
- Quem é você? – perguntou Gilgamesh.
- Alguém que quer recuperar a honra tomada pelo seu
Imperador há tempos.
- Me referi ao seu nome.
- Meu nome não é importante. Mas caso queira, pode me
chamar como o Portador da Ordem.
- Só te digo uma coisa, Portador. – disse Gilgamesh. –
Não faça nenhuma gracinha comigo. Posso te matar facilmente, se precisar.
- Não se preocupe. Sei com que estou lidando. – Nisso, o
Portador sentou-se em uma das cadeiras que estavam inteiras e puxou uma para
Gilgamesh. – Sente-se, meu caro. Temos negócios a tratar.
Um pouco desconfiado, Gilgamesh sentou-se na cadeira que
o Portador havia puxado e começou a escutar a proposta dele.
Enquanto isso, Fontaine recebia a visita de quatro bravos
viajantes enquanto o dia nascia com uma garoa que estava ficando cada vez mais
forte. Estavam aflitos, correndo pelas ruas em direção à clínica da cidade. Um
deles era um homem com uma capa negra que carregava um paladino desacordado e
machucado nas costas. Ele estava acompanhado de uma lindíssima moça de longos
cabelos loiros e uma jovem de cabelos curtos e morenos. Ambas estavam bem sujas
de barro devido à chuva que caía.
Os quatro demoraram um pouco para chegar à clínica.
Quando chegaram, a chuva começou a ficar mais forte. Anitta foi na frente para
abrir a porta da recepção da clínica.
- Por favor! – disse ela, aflita. – Acudam! Tenho uma
pessoa que está muito mal! Um médico, um enfermeiro, alguém nos ajude!
As palavras de Anitta causaram alvoroço no local. Todos
os pacientes que estavam à espera de atendimento começaram a comentar e
observar a chegada daqueles quatro. Surgiu uma enfermeira de trás do balcão da
recepção para atender o pedido de Anitta.
- Qual o problema? – disse ela.
- O meu amigo foi pisado por um dinossauro zumbi. –
respondeu Anitta, olhando para Marco.
- Estávamos cruzando o Jardim da Morte quando isso
aconteceu. – Llynx complementou o que Anitta disse.
- Por favor, atenda-o rápido.
- Tudo bem. Vou buscar uma maca e vamos atendê-lo
imediatamente. – A enfermeira seguiu por um corredor e buscou uma maca. Ela
voltou acompanhada de mais dois enfermeiros que colocaram Marco sobre a maca. –
Vocês também precisam de tratamento. Me sigam, por favor.
Os três acompanharam a enfermeira que guiava a maca de
Marco até uma sala de observação. Lá, a enfermeira barrou os três de seguir a
maca onde o paladino estava deitado.
- Desculpe, mas vocês não podem seguir daqui.
- Como não? Eu não posso deixá-lo! – interrompeu Anitta.
– Não posso deixá-lo morrer!
- Ele não vai morrer, senhorita. Fique tranquila, nossa
equipe é boa para tratar ferimentos como os dele. Por favor, sigam até o fim do
corredor até uma sala de medicação.
Anitta tentou seguir a enfermeira, mas Llynx a puxou pelo
braço e Maya entrou na sua frente.
- É melhor irmos, Anitta. – disse Llynx. – A equipe do
hospital é boa para o caso dele.
- É, Anitta. Fique tranquila. – complementou Maya. – Ouça
o que a enfermeira disse. Agora só nos resta esperar.
Anitta se acalmou e percebeu que estava meio fora de
controle. Ela respirou fundo e segurou as lágrimas de preocupação. Virou-se e
seguiu para onde a enfermeira tinha sugerido ir. Os três chegaram a uma sala
onde outra enfermeira os aguardava.
- Sentem-se nas poltronas, por favor.
Elixir. |
Os três sentaram nas poltronas e esperaram que a
enfermeira voltasse com a medicação. Não havia mais o que fazer. Bastava
esperar se recuperar primeiro para depois fazer o que precisavam em Fontaine.
Não demorou para que a enfermeira voltasse com ataduras, copos com água, extratos
de Remedy em cápsulas e frascos de Elixir. A enfermeira entregou uma cápsula,
um copo e um frasco para cada um.
- Tomem o Elixir e a cápsula de Remedy antes da água. O
sabor do Elixir não é bom. A água alivia o gosto ruim.
Os três seguiram as ordens da enfermeira. A única que não
conseguiu disfarçar uma careta por causa do gosto ruim do Elixir foi Maya, que
nunca tinha tomado um antes. O efeito da medicação foi instantâneo. Parecia que
estavam renovados, prontos para cruzar o Jardim da Morte mais uma vez. Ainda
assim, tiveram que enfaixar algumas partes do corpo, pois, mesmo com o efeito
do Elixir, o ferimento poderia não cicatrizar direito e pode se abrir novamente.
Depois de receber os devidos tratamentos médicos, Maya,
Anitta e Llynx foram liberados da clínica. A princesa não parava de pensar na
situação de Marco.
- Eu me pergunto se Marco está bem... – disse ela,
suspirando pra si mesma.
- Ele vai ficar, mas tem uma pessoa que precisa mais de
você agora. – disse Llynx.
Então Anitta se lembrou do motivo de estar ali. Ela tinha
que curar a pessoa que Llynx havia pedido antes.
Remedy. |
- Sim, Llynx. Perdoe-me, esqueci que tinha essa pessoa
para quem eu devo prestar socorro. Onde ela está?
- Siga-me. – Llynx passou pelas duas e foi seguido por
elas.
Os três saíram da clínica debaixo de chuva e andaram até
uma casa não muito longe dali. Llynx tocou a campainha da casa e entrou. Lá
dentro estava um casal de senhores na sala, agonizados.
- Helga, Ysio. – disse Llynx cumprimentando o casal.
- Oh, Llynx. Que bom que você conseguiu voltar. Estranhei
que vocês não tivessem chegado com o trem do Festival da Caçada ontem à noite.
- Tivemos um pequeno contratempo no trem.
- Conseguiu trazer a princesa? – perguntou Ysio.
Nisso, Anitta entrou pela sala seguida de Maya. Quando
Helga viu a princesa, sentiu um grande alívio.
- Graças aos deuses! Muito obrigado, Llynx. – então, ela
se virou para a princesa. – Majestade, obrigado por ter vindo com Llynx ajudar
minha filha. – Helga e seu marido Ysio se ajoelharam perante a princesa.
- Não foi nada, minha senhora. E por favor, não
precisamos de formalidades aqui.
- Tudo bem, senhorita. Perdoe-me. – O casal se levantou.
Estavam felizes de ver a princesa.
- Como ela está? – perguntou Llynx.
- Mal. Parece que a cada dia que passa o estado dela
piora. – lamentou Ysio.
- O que ela tem? – perguntou Anitta. – Preciso ter uma
noção do que ela tem para que eu possa ajudar.
- Ela estava andando pelas cataratas de Calcobrin e foi
atacada por algo muito grande e forte. Ela perdeu os sentidos e caiu no chão em
coma. – disse Helga, começando a chorar. – Ela estava muito machucada. Tentamos
levá-la para a clínica daqui, mas não obtiveram um bom diagnóstico.
- E quanto tempo faz que ela está em coma?
- Faz quase duas semanas que ela se machucou. – disse
Llynx, que estava encostado em uma parede com os braços cruzados.
- Por favor, princesa. – Helga segurou as mãos de Anitta.
– Ajude nossa filha. Eu lhe imploro. Traga ela de volta pra nós.
- Tudo bem, eu trarei. Onde ela está?
- Ela está em um dos quartos no segundo andar. Venham,
vou levá-los até lá. – Ysio foi na frente para mostrar o caminho.
Anitta, Llynx, Maya e Helga subiram as escadas que Ysio
subiu e passaram por um pequeno corredor. Ysio abriu uma porta que dava em um
quarto. Nele, estava uma jovem ruiva em coma, deitada em uma cama. Estava de
pijamas, com uma máscara de oxigênio no rosto e coberta por um lençol branco
até um pouco abaixo dos seios. Ela estava com uma aparelhagem com os dados do
organismo dela: batimentos cardíacos, estabilidade da pressão e tudo mais.
Helga se aproximou da moça e botou a mão sobre a testa
dela, acariciando.
- Melodia, minha filha querida. – disse Helga. – Temos
alguém que vai te ajudar. Aguente só mais um pouco, querida.
Helga sentou-se em uma poltrona próxima da cama, onde
estava acostumada a sentar desde que sua filha Melodia entrou em coma. Ela
ficou olhando para a filha, com esperança de que ela acordasse. Ysio sentou-se
em um dos braços da poltrona e começou a olhar para a filha também. Maya e
Anitta entraram e ficaram próximas uma da outra.
Llynx passou e se virou para Anitta.
- Anitta, ajude Melodia. Tente trazê-la de volta, por
favor. – disse Llynx antes de se encostar ao lado da porta do quarto.
- Tudo bem. Farei o possível para ajuda-la.
Anitta se aproximou de Melodia e a observou um pouco. Ela
levantou suas mãos sobre a moça e começou a dizer algumas palavras para si
mesma. Suas mãos começaram a brilhar com um verde pálido e desceram ondas da
mesma cor das mãos, que envolveram o corpo de Melodia. A magia de Anitta fez
com que os cabelos da princesa começassem a flutuar no ar, como se estivesse um
vento batendo neles. Nisso, ela começou a flutuar e o verde pálido começou a
brilhar com mais força. A luz do verde pálido começou a brilhar tanto que cegou
a todos que estavam no quarto por alguns instantes. Assim que a luz começou a
cessar, Melodia já começava a perder o brilho da magia de Anitta.
Quando o brilho estava bem fraco, o verde pálido se
desfez em brilhantes e desapareceu no ar. Anitta pousou no chão com delicadeza
e com os olhos fechados. Ela perdeu o equilíbrio devido ao esforço, mas acabou
sendo segurada por Llynx para se manter em pé. Todos se aproximaram da cama de
Melodia para ver o que tinha acontecido. A garota ainda estava sem movimento.
Helga tocou as mãos da filha, esperançosa.
- M-Melodia? Querida?
Alguns instantes de silêncio e de ansiedade caíram sobre
todos. Todos olhavam para Melodia, esperando que ela despertasse. De repente,
Helga sentiu algo. Ela virou a cabeça para baixo e teve uma surpresa. O polegar
de Melodia estava acariciando sua mão. Helga e Ysio estavam emocionados com a
reação da filha. Nisso uma voz fraca soou.
- Ma... ma... mamãe... – era a voz de Melodia.
- Querida! Você está bem! – Helga caiu em prantos de
felicidade ao poder ouvir a voz da filha. Ysio também não aguentou conter as
lágrimas.
- Melodia, minha filha! Graças aos deuses você está bem.
Melodia já estava com os olhos fitados em seus pais.
- Estou... de volta.
Nisso, o casal abraçou a filha com muito amor. Era uma
coisa ótima. Finalmente Melodia estava acordada. Não corria mais risco de vida.
Nem Maya conseguiu conter algumas lágrimas. Era uma cena muito emocionante.
Anitta estava fraca, mas pode ver Melodia acordada.
- Que bom que você está viva, Melodia. – disse a
princesa. – Parece que consegui fazer um bom trabalho.
- Obrigada. – respondeu Melodia. Ela não conseguiu
reconhecer a princesa por causa daquele momento feliz que estava passando.
- Venha, vamos deixa-los a sós. – sussurrou Llynx.
Nisso, Llynx, Anitta e Maya saíram do quarto e foram para
a sala. A chuva já estava começando a ficar mais fraca. Anitta estava feliz,
porém exausta por ter salvado a vida de Melodia e ter passado a noite toda
correndo perigo, lutando contra criaturas horrendas nas terras de Royale.
Precisava descansar. Ela se sentou em um sofá e acabou adormecendo em poucos
instantes.
Quando acordou, Anitta viu que estava sozinha na sala.
Era quase noite. Olhou para os lados, procurando por alguém. Nisso, passos
foram ouvidos da escada. Era Ysio que estava as descendo.
- Olá, minha jovem. Como foi a sua soneca?
- Foi revigorante. – sorriu Anitta. – Consegui dar uma
pequena descansada até mais tarde poder dormir.
Ysio sorriu para a princesa.
- Ainda não tive tempo de agradecer pelo que fez. Muito
obrigado. Vossa Graça é uma pessoa muito abençoada.
- Foi um prazer ajudar. Mas por favor, sem formalidades.
- Tudo bem, minha jovem. Serei menos polido.
- Obrigada. – Anitta agradeceu com um belo sorriso. Ela
olhou para os lados e percebeu que estava faltando algo. – Onde estão Llynx e
Maya?
- Llynx está no quarto com Melodia. Sua amiga saiu com
Helga para a clínica. Saíram às pressas depois que receberam uma notícia sobre
um dos pacientes que foram internados hoje pela manhã.
- Paciente? Quem é?
- Acho que o capitão da Armada de Urano. Tenho quase
certeza.
- Oh, deuses! – Anitta sabia de quem Ysio estava falando.
Seu coração bateu forte ao ouvir o que ele dissera. – Notícias? Como ele está?
- Não sei. Maya e Helga saíram correndo assim que
receberam a notícia.
Anitta ficou preocupada. Agradeceu Ysio pela informação e
saiu da casa em direção à clínica. No meio do caminho ela não pensava em mais
nada a não ser no estado de Marco. “Será que ele está bem?” – pensava ela
consigo mesma. – “Acho que está.” Mas por que Maya saiu correndo com Helga? O
que poderia ter acontecido? Isso a deixava cada vez mais aflita durante a
corrida.
Quando chegou à clínica, Anitta abriu a porta com de
falta de ar e perguntou à recepcionista qual era o quarto onde Marco estava
internado. A recepcionista lhe deu as informações necessárias e Anitta seguiu
pelas direções que recebeu. Quando encontrou o quarto, ela abriu a porta e viu
Marco deitado em uma cama, todo enfaixado. Estava acordado e conversando com
Maya e Helga.
- Marco... – disse ela emocionada ao ver que Marco estava
bem.
Maya, Helga e Marco viraram para Anitta que estava um
pouco à frente da porta. Os olhos de Marco se encheram de alegria ao ver que
Anitta estava bem.
- Alteza. Que bom ver que você está bem. – disse o fiel
guarda-costas com uma voz fraca.
Maya e Helga olharam para a cena e viram que a situação
não era propícia para a presença das duas. Elas passaram por Anitta, avisando
que estariam no corredor caso precisasse de algo. Anitta acenou agradecida e
ficou ao lado direito de Marco. Ela pousou as mãos sobre o braço parcialmente
machucado. Marco sentiu um pouco de dor, mas era suportável para entrar em
contato físico com aquela bela e jovem princesa.
- Como está se sentindo? Você está bem? – perguntou ela,
sorrindo.
- Estou ótimo, Alteza. Estarei melhor em breve.
- Que ótimo, Marco. – Anitta olhou no fundo dos olhos do
paladino que salvara sua vida naquela madrugada. Eles sentiram algo terno
quando seus olhares se encontraram. Então, ela se virou, um pouco sem graça e
perguntou. - O que aconteceu? O que os médicos disseram?
- Bom... – Marco ainda estava um pouco corado com a
reação da princesa ao cruzarem olhares. – Eles disseram que não quebrei meus
ossos por sorte de aquele monstro não ser tão pesado.
- O que acontece a seguir?
- Como o pior já passou, estou dependendo de um
tratamento especial de religação de alguns ossos quebrados.
- Quando tempo ficará aqui?
- Não sei. Os médicos disseram que devem ter cautela com
o tratamento.
- Desculpe-me por colocar você nisso, Marco. Foi por
minha culpa que você se machucou. Fui egoísta quando Llynx me raptou. Não agi
como uma princesa sensata naquele dia.
- Não se preocupe, Alteza. Vossa Graça tem um bom
coração. Sei que veio para ajudar a amiga de Llynx. – Marco se lembrou que Helga
havia lhe contado sobre Melodia. – Soube que Vossa Graça pôde ajudá-la.
- Sim. – respondeu Anitta com um pequeno tom de euforia.
– Conjurei uma magia que eu nunca havia conjurado antes. Foi ótimo poder
trazê-la de volta.
- Isso é bom. Assim, Vossa Graça pode ir praticando mais
para que se torne uma White Mage melhor.
Anitta correspondeu ao elogio com um sorriso. Os dois
conversaram por algum tempo até que Marco se lembrou de notificar a princesa
sobre um detalhe.
- Alteza, temos que voltar para Tia’bra. Não temos porque
mais ficar aqui.
- Mas já? – Anitta deu um suspiro. – Estou gostando tanto
de ter saído do palácio. De ver como é o mundo aqui fora.
- Eu sei, mas a vida de Vossa Graça é lá. Teremos que
voltar em breve.
- Mas, e Gilgamesh? – Anitta se lembrou dos maus bocados
que passou por causa do guarda-costas de seu pai na madrugada passada. – Ele
estará a nossa espera. Será que ele vai tentar nos fazer mal de novo quando
voltarmos?
Marco de lembrou da ação inesperada do irmão ao tentar
atacar a princesa no trem do Festival da Caçada. Era melhor que ele protegesse
Anitta até entrega-la para o Imperador.
- Ele não lhe fará mal enquanto estivermos juntos,
Alteza. Quando chegarmos em Tia’bra, vamos entrega-lo ao senhor seu pai. –
disse Marco com um sorriso.
- Ora... – Anitta suspirou novamente e consentiu. – Tudo
bem, Marco. Vamos voltar pra casa em breve.
Anitta se virou em direção à porta do quarto, mas antes
de sair, ela se virou para Marco novamente.
- Marco?
- Sim, Vossa Graça?
Anitta estava corada novamente. Ela abaixou o rosto,
tentando encontrar palavras. Queria dizer algo para Marco, mas nada saía. Ela
apenas gaguejava.
- Alteza? Está bem?
- S-só queria lhe di-dizer que...
- Sim?
De repente, Anitta levantou o rosto e disse:
- Por favor, não precisamos de formalidades enquanto não
estivermos no palácio. Quero que me chame de Anitta.
- Mas, Alteza... – a voz de Marco sumiu.
- Sem mas, Marco. Não quero que me chame assim por
enquanto, ok?
Marco sorriu.
- Tudo bem, Vos... – Marco se lembrou do pedido. –
Anitta. Não vou te tratar mais formalmente enquanto não estivermos no palácio.
- Obrigada. – sorriu Anitta. – Volto em breve. Trate de
ficar melhor logo.
Design das casas de Fontaine. |
Assim, Anitta fechou a porta do quarto e deixou Marco
sozinho. Enquanto Marco se recuperava na clínica, ela ia passear com Maya para
conhecer Fontaine, mas sempre visitava ele e Melodia de horas em horas. Anitta,
Maya e Llynx passaram três dias na casa dos pais de Melodia, esperando que os
dois recuperassem.
Na noite do segundo dia, enquanto Maya ajudava Helga a
fazer o jantar, Anitta foi admirar a lua do terceiro andar parcialmente
descoberto da casa. Era um belo lugar. Tinha alguns canteiros, uns no chão,
outros em vasos e alguns bancos. Dava pra ver as luzes das casas de Fontaine,
os vales e montanhas de Valendia e, na distância, o já fora de atividade vulcão
Millude e, no topo dele, a Capital Monarca de Fletz. A visão do horizonte era
ótima e a lua ajudava pelo fato de estar cheia e brilhar muito. Ela se sentou
em um banco e começou a admirar o luar e o horizonte até que se lembrou dos acontecimentos
no Jardim da Morte.
- O Limit Break... – Anitta levou a mão ao cristal que
tem amarrado como pingente no peito. – Shiva... – Anitta se lembrou da deusa de
gelo, que a ajudou na luta contra o dinossauro zumbi. – Como eu... Invoquei...
um eidolon?
- Talvez eu possa ajudar. – disse uma voz vinda das
sombras do terceiro andar. Era a voz de Llynx. Anitta se assustou com a
presença dele.
- Llynx?! – disse ela assustada. – Não vi você aí.
- Não foi minha intenção assustar você. Perdoe-me.
Anitta balançou a cabeça, aceitando os pedidos de
desculpa.
- Como você pode me ajudar?
Llynx caminhou para a direção da lua, onde o luar batia
mais forte naquele andar, ficando exposto para a lua e de costas para Anitta.
Ele inclinou a cabeça para que Anitta pudesse ouvir suas palavras com clareza.
- Anitta, o que você sabe sobre os Eidolons?
- Sei que eram as treze divindades que lutaram do lado
dos Humes contra os Espers e os Neo-Humes na Campanha dos Espers.
- Esplêndido. – disse com frieza. – E o que mais?
- Sei também que cada um dos Eidolons era comandado pelos
cavaleiros invocadores, os Ark Knights.
- E?
- Para que um Ark Knight pudesse invocar o Eidolon, ele
teria que estar usando uma das Joias Sagradas que correspondia ao Eidolon. E
que cada Eidolon e Ark Knight tinham o seu elemento. Por exemplo, o meu pai era
o Ark Knight da Água, portador da Joia Sagrada Água-marinha, e o seu Eidolon
era Leviathan. O meu tio Salazar era o Ark Knight da Lua. Ele portava o
Diamante Negro e o Eidolon dele era Odin.
- Certo. – disse Llynx com impaciência. – O que você pode
concluir disso?
- Eu invoquei Shiva, mas como? – ela olhava para o
cristal encostado nas roupas que usava desde tê-las comprado no brechó em
Ghest’al.
- Se seu pai é Cidolfus Von Tia’bra, o Ark Knight de
Leviathan, sua mãe deveria ser Shirley Von Tia’bra.
- A Ark Knight de Shiva... – disse Anitta ao lembrar-se
da mãe.
- Certamente.
Anitta lembrava-se bem de Shirley. A mãe era muito
carinhosa e atenciosa. Sempre brincava com Anitta e a irmã Cassena. Tinha quase
dedicação total às filhas, uma vez que Cid passava maior parte do seu tempo
cuidando do palácio e da cidade. Ela tinha morrido quando Anitta tinha cinco
anos de idade, mas os poucos momentos com a mãe foram ótimos. Ela também se
lembrava da irmã mais velha Cassena, que desapareceu dias depois da morte da
mãe. Ninguém sabia onde ela foi, pois estava abalada com a morte de Shirley e
por isso fugiu de Tia’bra durante a noite.
- Mas como posso ter adquirido essa habilidade? –
perguntou Anitta. – Minha mãe morreu sem me ensinar a arte de invocação. Ela
nem me passou a Joia Sagrada dela, a Opala de Shiva.
- Deixe-me contar algo breve, Anitta. – Llynx se virou
contra o luar e ficou de frente para Anitta. – Existe uma divindade para os
Eidolons que é mais forte que todas as outras doze. A décima-terceira
divindade. Ela só pode ser invocada por um Ark Knight de coração forte e puro.
O Ark Knight que controlar esse Eidolon supremo tem a habilidade de invocar
qualquer outro Eidolon.
- E você acha que eu sou essa pessoa? Eu sou uma Ark
Knight? – Anitta se levantou esperançosa na resposta de Llynx.
- Ainda é cedo pra dizer. Mas tenha certeza de uma coisa.
Nas suas veias correm o sangue de dois grandes e importantes Ark Knights. A
arte da invocação está escrita em seu corpo.
Quando Llynx terminou a frase, pôde-se ouvir o grito de Helga
que veio do primeiro andar, chamando Anitta e Llynx para jantar. Anitta se
virou para as escadas e refletiu sobre o que Llynx lhe dissera.
- Me ajude a descobrir esse meu lado, Llynx. Pode fazer
isso? – disse Anitta antes de descer as escadas.
- Farei o que puder.
Anitta desceu as escadas e deixou Llynx sozinho no
terceiro andar da casa. De repente, Llynx sentiu algo estranho. Algo corrompeu
os pensamentos dele. Isso fez com que ele liberasse algumas sombras que
quebraram alguns jarros de flores. Um zumbido começou a soar na cabeça dele
juntamente com uma voz.
- Está com saudades? Vou voltar em breve. Vou me libertar...
– a voz deu uma curta risada.
Llynx se sentou no chão e começou a meditar até que o
zumbido sumisse. Não demorou muito para que ele cessasse. De pé, Llynx olhou
para o luar uma última vez antes de descer para jantar.
Quando desceu para a cozinha, viu que estavam sentados à
mesa Anitta, Maya, Ysio, Helga e, ao lado dela, Melodia.
- Melodia, você já está melhor? – perguntou Llynx.
- Sim, Llynx. Graças à princesa Anitta, já estou andando,
subindo e descendo as escadas daqui sozinha. – disse ela, feliz.
- Isso é bom. – disse ele.
Anitta retribuiu com um sorriso. Não podia falar, pois estava
com a boca cheia da comida que Helga fez.
- Sente-se, Llynx. – Helga ofereceu um lugar na mesa de
forma que ele ficasse de frente para Melodia. – Fiz guisado de Cockatrice com
vegetais.
Llynx se sentou e se serviu um pouco do guisado. Depois
de comer um pouco, Melodia começou a conversar.
- Maya, Anitta. Como está o capitão?
- Marco também está se recuperando bem. – disse Maya. –
Os clínicos disseram que depois de amanhã ele já poderá ter alta da clínica.
- Sim. – completou Anitta. – Assim que ele sair da
clínica vamos seguir viagem.
- Isso é ótimo. E para onde vocês vão? Desculpe se estou
sendo enxerida.
- De forma alguma. – disse Maya. – Vamos para Fletz levar
Anitta e Marco até o Aerodomo para que peguem um airship de volta para Tia’bra.
Era o que Melodia precisava ouvir. Depois que Maya
terminou a frase, Melodia comeu um pouco mais do guisado, limpou-se com um
guardanapo e se virou para Anitta.
- Princesa, peço que aceite a minha companhia durante a
viagem até Fletz.
Helga e Llynx pararam de comer ao ouvir o que Melodia
disse.
- Sou contra. – disse Llynx. – Não está recuperada.
- Como? – disse Helga. – Você acabou de acordar e acha
que vou permitir que saia assim?
- Mas mamãe, Llynx, já estou melhor. Além do mais, tenho
um débito com Anitta. Ela salvou minha vida, preciso retribuir o favor.
- Mas você já está se sentindo melhor mesmo? – perguntou
Anitta. – Não posso deixar que me acompanhe sem ter certeza que está bem.
- Estou melhor, Anitta. A sua magia me fez curar mais
rapidamente.
- Ainda acho que é perigoso. – disse Helga. – O que você
acha, Llynx?
- Acho que ela deveria ficar, apesar de saber que já está
bem.
- Mas... – disse Melodia, chateada. – Papai, o que o
senhor acha?
Ysio limpou a boca com um guardanapo antes de responder a
filha.
- Bom, se você está melhor, não vejo porque não ir.
Apesar de quê você estará segura ao lado de Llynx. Confio nele.
Llynx não levantou seu rosto para responder Ysio.
Continuou a comer o guisado. Melodia ficou tão feliz que se levantou e abraçou
o pai. Deu um beijo na bochecha dele e voltou ao seu lugar, para terminar o
guisado.
- Obrigada, papai!
- Minha filha... – suspirou Helga. – Só você mesmo.
Melodia riu. Ela sabia que, apesar da mãe achar melhor
ela ficar em casa, confiava nela e que não teria problemas em ir, ainda mais
acompanhada de Llynx que já é conhecido.
- Então, Melodia. – disse Maya. – O que você faz? Você
ajuda nas batalhas?
Um Red Mage. |
- Sim, sou uma Red Mage formada em Mysidia. – respondeu
Melodia, feliz. – Uso tanto White como Black Magicks, mas não consigo conjurar
as de terceiro e quarto nível.
- Terceiro nível? – perguntou Maya.
- Sim, as magias que vem com o sufixo “ga” e “ja”
respectivamente. Por exemplo, a magia de gelo de primeiro nível se chama
Bizzard. A de segundo se chama Blizzara, pois tem o sufixo “ra”. A de terceiro
nível se chama Blizzaga e a mais forte de todas, a de quarto nível se chama
Blizzaja. – explicou Melodia.
- Ah, interessante.
- Sim, mas como só posso usar as de primeiro e segundo,
posso usar duas magias ao mesmo tempo. Posso conjurar uma magia de cura e uma
de fogo juntas.
- Nossa, isso sim é legal! – Maya se impressionou. – Vai
ser ótimo ter você conosco!
Nisso, a conversa foi envolvendo todos até que terminaram
de jantar. Todos se levantaram e subiram, exceto Helga e Melodia que ficaram
lavando a louça.
Ao entrar no quarto no qual estava hospedado, Llynx
recebeu a visita de Maya. Ele sentiu a presença dela dentro do quarto.
- O que você quer? – disse ele sem se virar.
- Llynx, estou preocupada com Anitta e Marco. – disse
ela. – Hoje fui à taverna da cidade e ouvi algumas pessoas comentando que o
Império está oferecendo uma recompensa pra quem os levar de volta a Tia’bra.
- Não se preocupe, vamos passar por Florendia. Não terá
perigo lá.
- Mas é lá que está acontecendo o Festival da Caçada. Por
isso estou preocupada.
- Tentaremos ser discretos ao passar por lá.
- Ok. – Maya concordou e saiu do quarto. Antes de cruzar
a porta, voltou com uma cara de curiosidade para Llynx. – Há quanto tempo vocês
se conhecessem?
- Vocês? – Llynx inclinou a cabeça para Maya. – Se refere
a Melodia?
- É óbvio.
- Nos conhecemos faz tempo. Estudamos juntos em Mysidia.
Depois nos separamos por uns tempos
- Você se preocupa mesmo com ela, não é?
Llynx se virou e já estava cansado com a presença de Maya
ali.
- Não acha que está sendo curiosa demais?
Maya riu e fechou a porta do quarto. Llynx a trancou e
virou para si mesmo e sorriu. Llynx ficou um pouco parado.
- Eu... sorri. – disse para si mesmo. – Faz tanto tempo
que isso não me acontece. – Llynx ficou surpreso e se deitou. Passou a noite
pensando naquilo até que dormisse.
Uma espada florete. |
Passados dois dias, Marco já tinha recebido alta da
clínica. Quando saiu de lá foi recebido por Maya. Ela o levou até a saída norte
da cidade, onde Llynx, Anitta, Ysio, Helga e Melodia estavam à sua espera. Helga
arrumava a roupa da filha: uma capa e um chapéu vermelho para a viagem,
enquanto o pai segurava Stinger, um florete roxo claro. Quando Melodia ficou
pronta, Helga se despediu da filha chorando, pedindo para que ficasse bem.
Enquanto Ysio se despedia da filha, Helga pediu a Llynx que cuidasse de
Melodia. Ele disse que cuidaria e se despediu de Helga. Ela entregou ao grupo
um estoque de poções para batalha e desejou sorte na travessia para Fletz. Quando
Helga e Ysio foram embora, Marco cumprimentou Melodia.
- Seja bem-vinda, Melodia. Teremos uma boa, porém breve
jornada até Fletz. Espero que goste.
- Obrigada, Marco. Tenho um débito com a princesa e isso
é o mínimo que posso fazer pra ela.
Quando Melodia terminou de falar, o grupo olhou um pouco
para o horizonte. Era um dia claro com algumas nuvens no céu. Logo à frente,
estava uma descida que levava aos Vales e Montanhas de Valendia. Depois
daqueles vales e montanhas, Fletz os esperava. Esperançoso de fazer uma boa
viagem, Marco respirou fundo e tomou dianteira na caminhada, sendo seguido por
Anitta, Maya, Llynx e a nova integrante, Melodia.
Como será a travessia do grupo? Será que vão encontrar
algum inimigo forte no meio do caminho? Conseguirão chegar ao Vulcão Millude
com segurança? Quais são os planos de Gilgamesh para usurpar o Império? Ele
será impedido? E quem será o Portador da Ordem que está ajudando Gilgamesh?
Descubra nos próximos capítulos da fanfic Final Fantasy XV! Próximo capítulo: Capítulo 6: O Alvo Da Caça!